Em época de verão, a mata era fechada, com folhagens verdes e amarronzadas. Algumas, secas, outras nem tanto. Neste caminho, tinha uma casa velha de engenho. E atrás do açude, se formava um baixio, onde ficava o pé de goiaba. Quando a gente estava voltando pra casa, passamos por ali, e chamei a Josileide:
- Vamos tirar goiaba? Ah, como eu gosto de goiaba, Josileide.
- Ó, neguinha, tu sobe e joga as goiabas, e eu cato.
Por um instante, lá de cima do pé, olhei para aquela casa velha, vi ali as fornalhas com o borralho dentro. Tudo muito escuro. O meu corpo se arrepiou todinho. Fiz o sinal da cruz “Cruz credo”. Foi quando a Josileide gritou
- Ó neguinha, já chega de goiaba!
Olhei pra baixo, e ela tava lá, acocada, colocando as frutas no colo do vestido. E eu de lá olhando a posição que ela estava pondo as goiabas, eu simplesmente me acoquei e mijei em cima dela. Quando caíram os primeiros pingos na cabeça dela, pense numa pessoa enfurecida!
- Sua cachorra! Sua égua, sua condenada!
Ela sapecou as goiabas n’eu com tanta força e com tanta raiva, que fazia “zum! zum!” no meu ouvido. Ela balançava o pé de goiaba pra ver se eu caía. Por sorte, nenhuma chegou a pegar em mim. Se tivesse pegado, eu tinha caído de lá feito uma goiaba podre.
- Sua gasguita! Sua fubica, sua lombriga!
Eu desviava no meio das galhas, e gritava:
- Neguinha, não me mate. Deixa eu descer!
- Eu vou é te dar uma surra aí em cima!
Ela começou a subir no pé de goiaba, e eu me vi sem saída. Mas desci pelas galhas, e corri em direção de uma vereda que dava pr’aquela mata fechada.
Ela gritava “Venha cá, sua nojenta! Dessa você não vai escapar não, sua bixa ruim”. E foi embora. Ali, me vi sozinha, e o medo tomou conta de mim. Não sabia se era de levar uma surra da Josileide, ou da escuridão da mata, ou da velha casa. Tive que voltar na goiabeira, pegar a cuia com os coeiros, e voltar sozinha para casa.
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